sexta-feira, 6 de julho de 2012

Caça

Molhei com toda falta de educação o biscoito num café bem forte, estava sentado à mesa do lado de fora de um restaurante chique  desses que vemos pelo Rio Vermelho, assim continuei, desinteressado pelo jornal que havia comprado por tão caros cinquenta centavos, não havia vergonha alguma, todos estavam prestando atenção em suas próprias vidas, assim penso eu, puxei um livro com cheiro de mofo de minha mochila suja, comecei a perceber o quão era poderoso estar sentado, tomando um café, comendo um biscoito e lendo um simples livro velho, daí as pessoas já observavam-me, acho que passava por suas cabeças que eu deveria ser um estudante de filosofia ou letras de uma dessas faculdades públicas, formadoras de monstros intelectuais que se prendem em seu próprio "ninho cultural", e com raiva do mundo, não expressam suas opiniões apenas pelo fato do mundo não merecer tal grandeza. 
Chegava no bar uma mulher com traços meigos, parecia ser culta, mas alegre, não aquela cultura amarga que nos remete a angústia, uma cultura de vida, que chega dava pra ver um brilho qual transmitia, arrisquei um sorriso, ela nem olhou para mim, pensei que não tivesse me visto, daí lembrei que um amigo meu disse-me uma vez, "Você acha que ela não te viu, mas ela te percebeu e analisou em menos de um milésimo de segundos, tudo isso de longe! " Depois de lembrar disso fui obrigado a vê-la ao lado de um rapaz que já estava há tempos no local, ele provavelmente havia convidado-a pra sair, um rapaz bem vestido, cabelos baixos e lisos, barba feita, totalmente diferente de mim, fingi-me de louco com uma ultima esperança, talvez tivesse apaixonado-me sem conhecer a senhorita, subi em uma das mesas e recitei o mais belo de meus poemas com o olhar fixo para ela, o garçom pediu educadamente para que eu me retirasse do local, peguei minhas coisas, paguei com um ódio mortal aquele café horrível, e ela passou por mim de mão dadas com o cavalheiro saindo também do restaurante, sorriu pra mim, e o meu dia ficou melhor, até o café já estava menos ruim em meu estômago, nunca mais havia me sentido tão leve, daí peguei meus sonhos e fui pra outro barzinho, tentar achar outra paixão repentina, mas ela nunca mais voltou !

Álisson Bonsuet.


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